30 de jun. de 2009

Eliana Zagui - Uma história de Superação

“Queria poder algum dia na minha vida, ter a experiência de permanecer uns dias fora daqui.”

A história da mulher que vive há 33 anos em um quarto no Hospital das Clinicas em São Paulo.



São Paulo. Para quem sempre se utiliza do metrô Clínicas, que fica a poucos metros do Instituto de Ortopedia (HC), não imagina que há 33 anos Eliana Zagui, 35, reside nesse que se tornou seu lar após ter contraído o vírus da poliomielite quando tinha um ano e nove meses de idade. Ela é natural de Guariba (SP) onde vivem seus pais Carlos Zagui e Tereza Jorge Vilkas Zagui. Eliana é uma exímia pintora de quadros com a boca, técnica que vem adquirindo há 11 anos com a voluntária Ursula J. Carvalhaes e já obteve reconhecimento na suíça por meio de exposições. Com extrema destreza manipula o pincel em sua boca como se o fizesse com as mãos. A duras penas obteve essa autonomia. Ursula demonstra extrema admiração por sua tutelada e enche-se de orgulho ao descrever seus primeiros passos para adquirir tamanho nível técnico. Enquanto conversávamos, Zagui, em meio a risadas tomava seu suco com um canudinho desempenhando sua “performance” extremamente eficiente, não derrubando uma gota sequer e ajeitando o copo apenas com uma palheta. Eliana respira por meio de aparelhos sem os quais só agüentaria 6 horas.




No quarto A123, reside com mais um colega, Paulo Oliveira, desde sua infância, também portador de Poliomielite. Almoça cedo por motivos de regulamento interno. Ela gosta de comer pizza. Eliana tem uma rotina cheia para um portador de Pólio. Ela escreve um livro autobiográfico iniciado em 2002, por idéia de uma enfermeira à época, o qual pretende lançar em 2010 pela editora Bela Letra. Gosta de navegar pela internet (digita eficientemente bem e rápido). Esta cursando o ensino médio onde pretende, após concluí-lo, se graduar em psicologia.



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Apesar de sua condição, Eliana tenta manter-se o mais próximo de uma vida normal. “Aceitar é extremamente difícil, me acostumei a conviver nessa situação e como qualquer ser humano, dito "normal", tenho meus momentos de depressão, angústia, raiva, revolta, mas é superável, pois não perco a fé. Quando se é criança, a depressão, angústia, raiva, revolta, é lidada de uma maneira e hoje é de outra maneira, outro olhar, pensar, enfim. Acordam-me entre 08h30, 09h00, tiram todos os calços do meu corpo (travesseiros, rolo feito de cobertor forrado com lençol), me colocam para fazer xixi e escovam meus dentes. De segunda, quarta e sexta, são os dias de lavar a cabeça. Depois do banho tomado, corpo arrumado na lateral esquerda (lado que se inclina para pintar), tomo café, vem a voluntária (Ursula) para me ajudar na pintura (as sextas-feiras). Chega a hora do almoço. Sempre antes recebo os cuidados. Faço xixi, as vezes coco, aspiram minha traquéia, me viram para o lado direito e ai senta uma delas (enfermeiras) ao meu lado para me servir o almoço. As duas horas da tarde, vêm de novo para me virar, por para fazer (as necessidades) se eu tiver com vontade. As vezes tenho aula, ou pinto os artesanatos quando recebo uma amiga que me ajuda, as vezes leio a tarde toda, ou tenho visita. Chega a janta. É a hora da higiene intima, faço xixi, lavam com sabonete e trocam a calcinha. Passam um pano molhado no meu rosto, lavam meu óculos, me aspiram, colocam o computador do meu lado e senta uma delas para me dar a janta, mas nem sempre eu janto todos os dias”. Seu café da manha é: pacote com duas torradas, mamão, ameixa e chá.




Eliana recebe visitas quase que diariamente e dispõe, diz ela, de vários amigos que esporadicamente acompanham-na em passeios fora do Hospital. “São esporádicos porque demanda muita mobilização para minha saída e esse processo é muito burocrático” - reclama. “Para eu ficar 12 horas fora daqui, preciso de um mês de antecedência. A pessoa que quiser me levar para passar um dia em sua casa, seja onde for, tem que assinar um termo de responsabilidade, tem que haver um médico, um auxiliar de enfermagem e um técnico de gasoterapia, sendo que essas três pessoas não podem estar trabalhando em lugar nenhum e sim estarem de folga. O médico tem que vir assinar um termo de responsabilidade, o hospital inteiro assina a papelada, alugo ambulância. Mesmo resolvendo dentro de um mês, se chegar no dia do passeio e acontecer de alguém não puder acompanhar, vai tudo por água abaixo”. Conta que em 2002 foi para o casamento do irmão de helicóptero particular, cedido pelo então governador Mario Covas.




Apesar de estar “sempre” rodeada de amigos, diz se sentir muito só. Em conversas pelo MSN, pois o acessa quase todas as noites permanecendo muitas vezes até a madrugada em contato com amigos, confessou sonhar em conhecer alguém e poder sair do Hospital. Porém não gosta de comentar tal situação, quanto mais fala sobre sua “solidão” mais ela aumenta. Contudo relata já ter vivenciado um romance em 1997 com alguém que apenas denomina de Ro/SP (assegurando-lhe anonimato). Foi seu primeiro beijo. Falando um pouco sobre sua família, coloca que não há muito contato entre eles: “Infelizmente, a família num modo geral é estranho, porque não existiu o convívio diário. Garanto que você sabe um pouco mais sobre mim do que meus pais e irmão”. Há certo sentimento de culpa entre todos, relata. “Meu pai em si se culpa por ter feito pouco ou nada e o meu irmão não comenta muito, mas emocionalmente ele sofreu muito. Minha mãe, não agüenta falar do assunto, pois começa a chorar”. Zagui tem noção que seu quadro é irreversível, contudo diz esperar por um milagre.



Sobre seus gostos pessoais, revela que gosta de filmes como Jogos Mortais e Pássaros Feridos. Na internet adora conversar, conhecer novas amizades e ficar respondendo e-mails de amigos, mas só os que classifica como sinceros. Além da pintura, lê livros e faz artesanato. ”Pinto porta-retratos, caixas, coisas de MDF no geral. Gosto muito de uma escritora chamada Danielle Stell, ela escreve muitos romances, dramas e têm alguns que são muitos bons, o último que li dela foi ‘Porto Seguro’. Agora estou lendo um que se chama: ‘A Sombra do Vento’. É um suspense meio misterioso, meio terror, é mais misterioso do que terror, muito bom!”.



...Tudo aconteceu porque tinha que acontecer e ainda bem que estou viva[...]




Perguntamos se gostaria que sua vida fosse diferente e se teria raiva da situação a qual se encontra, responde: “A questão de tentar entender o porquê tive poliomielite, hoje em dia já estou muito mais tranqüila, pois não culpo meus pais e nem a Deus. Tudo aconteceu porque tinha que acontecer e ainda bem que estou viva. Se Já fiquei revolta? Conflitante? Tive fases terríveis! Se já deixaram de existir hoje em dia? Não, porém, minha revolta hoje em dia, está muito ligada a decepções com o ser humano, no modo geral. O modo que as pessoas vêem e cuidam da vida dos outros, a pressa de querer fazer tudo rápido, para ganhar dinheiro. O que eu queria que fosse diferente hoje em dia, é que as pessoas parassem de matar umas as outras e a si mesmas no sentido interno. Todos se tornam egoístas, frios, gananciosos, ficam competindo para quem vai ficar com o prêmio do mais malvado ou preguiçoso a troco de nada, sendo que todos irão morrer - virar bosta para os vermes comerem. Queria poder algum dia na minha vida, ter a experiência de permanecer uns dias fora daqui, mas com a garantia de que não perderia meu lugar e nem, muito menos, ter a ameaça de ser retirada, só por ficar uns dias fora. Acredito que se isso acontecer, será uma vez só, sem o direito de repetir a dose. Só em casos extremamente excepcionais. Mas sonho é sonho. Meus conflitos hoje em dia estão ligados no fator emocional, a minha extrema teimosia ao fator de viver verdadeiramente uma relação amorosa, independente de sexo, mas sem ser muito interrogada, vigiada, atrapalhada, negada, sem falatórios maléficos para atrapalhar a relação, enfim”.








Zagui Tem seu próprio site na internet: http://www.apbp.com.br/elianazagui/intro.asp

















Por: A. Oliveira

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