15 de abr. de 2009

Aquele Abraço...

Wilma e Itagyba Kuhlmann
ITAGYBA KUHLMANN é meu referencial. Para quem não o conheceu (uma pena), filho do pesquisador Moisés Kuhlmann, um dos fundadores do Jardim Botânico de São Paulo em 1928, ele foi além de poeta e criador de coelhos, um exímio jornalista político. Seu patrimônio intelectual não está editado. Ele nunca se propusera a tal façanha, mas algumas de suas crônicas e artigos estão disponibilizados através dos extintos jornais Fato Expresso e Cidades da Serra e na revista Contemporânea. Seu pseudônimo mais conhecido é o “Tio Marcos da Portela: - Aquele Abraço!”

Preludio

Entrei para a família recentemente, contudo os conheço há anos. Participei do Coral Municipal de Embu, “Cantares a Meu Povo”, nome em referência a obra de Solano Trindade, sob regência de Wilma Abondanza (Dona Wilma) até 2008. Lembro que quando comecei no coro, como tenor, pois minha voz não tem timbre para "baixo" que me entristecera um pouco na época, Itagyba simples e sereno às ordens magistradas pela regente, sua esposa, dava o tom firme com sua voz grossa e veemente, embalando nossos ensaios na Biblioteca Municipal Moacir F. Jordão, no centro do Embu. Era uma diversão. Mais empolgante que as próprias apresentações. Sempre havia uma nova toada, com vocalizes e exercícios musculares a luz apagada para não deixar ninguém envergonhado. Quando afinávamos e executávamos por completo uma obra como “Estrela Estrela” de Vitor Ramil ou “Cio da Terra” de Chico Buarque, uma paz assolava a sala fria e desconfortável que nos abrigava. Era um esplendor. Lembro-me de sempre fechar os olhos nesses momentos e deixar fluir o som por meus pensamentos. Fantástico!
"...uma paz assolava a sala fria e desconfortável que nos abrigava. Era um esplendor..."

Nas apresentações Itagyba era acolhedor com seu sorriso discreto. Sempre que chegávamos, ele nos recebia como um paizão mesmo. Lúcido até o extremo e simples com seu ar poético, era o contraponto da Dona Wilma. Ela sempre brincalhona e extravagante com suas piadas e deixas. Naquela época eu não imaginava que algo poderia acontecer entre a minha pessoa e o rebento mais lindo produzido pelo casal: Mayra. Ela, tímida, mas de personalidade forte, não me despertara sentimentos "quentes", e sim, porque não, uma inveja boa pelos pais que possuía. Na verdade, acho que todos que os rodeavam queriam de alguma forma fazer parte daquela família, e faziam, pois a todos Itagyba e Wilma acolhiam fraternalmente.
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Comecei namorar a Mayra em 11 de outubro de 2008. Naquele momento entrei para a família que me acolheu de braços abertos. Itagyba, agora como meu sogro, me despertava o senso de um dia me tornar, como tal, um jornalista, já que para poemas não tenho vocação. Nossas conversas sempre carregadas de um ar paternal eram ilustradas por política, cultura, jornalismo e informática, já que ele era ‘expert’ em programação LINUX – UBUNTO. Nesse tempo de convivência aprendi muito com eles.

Sempre fui inclinado a assunto ligado a religião, por sinal minha formação é católica. Freqüentar uma casa onde quase todos são agnósticos me trouxe outras visões sobre o mundo. Uma das mais profundas foi a que independente de religião o mais importante é o ser humano, e isso era lema, quase como cartilha de boa convivência na família. Seus seis filhos homens, de momento, se retraíram a minha presença. Pouco, mas notei que por olhares minuciosos me analisaram para sua aprovação. Em contra-senso a isso, Itagyba já, por declarações às minhas costas, me aceitara antes mesmo de meu romance com sua filha iniciar-se. Foram seis meses de puro acolhimento e felicidade! Pude-me sentir “invejado” por ser o escolhido ao convívio direto à esta família.

Constatações

Nesse tempo percebi o quanto a razão e o nível cultural podem construir ou gerar elementos essenciais à estruturação de uma família brilhante como a deles. Nesse contexto, meu sogro foi o grande “culpado”. Desquitado de sua ex-esposa com a qual teve seu 1º filho, Mauricio (MZK), conheceu a Wilma por seus textos. Conta ela que ao se deparar com uma de suas obras “enlouqueceu” querendo saber quem era o autor de tamanha peripécia. Ela se separou do namorado à época de 1971, motivo: seu namorado tinha ciúmes do Itagyba. Wilma e Itagyba começaram namorar no mesmo ano.


A doença

Itagyba fumou por 45 anos. Esse vício o prejudicou, e um de seus pulmões o deixara na mão. Tempos difíceis contam, onde pensaram que ele não agüentaria. BRAÇO DE PEDRA: em tupi, "ita" é "pedra", e "gyba", "braço", assim o caracterizaram após esse episódio, pois o significado indígena do seu nome se fez valer neste momento. Parou de fumar e começou a buscar uma vida mais saudável: eles não usam forno microondas por precaução. Contudo, o destino ou acaso o levou novamente ao leito do hospital e isso acompanhei de perto. Devido a sua debilidade física um tumor cresceria em seu cérebro. Os médicos indicaram que pelo nível de ramificações, tal tumor poderia estar alojado de longa data. Essa ninguém esperava, já que por sua lucidez e inteligência algo como isso era impensável.


A descoberta

A partir de meados de 2008, alguns episódios na Prefeitura de Embu, onde prestou serviços até seus últimos dias o deixaram profundamente descontente e um enorme sentimento de impotência se apoderou dele. O encaminhamento da política local pode ter sido seu calvário. Nesse ponto já não tinha mais força e sempre tentava nos acalmar, dizendo que só precisava descansar em sua cama. Sua companheira Wilma, tentou de tudo para animá-lo. Em vão relembrava situações das quais passaram, para que pelo passado pudesse convencê-lo a lutar pelo presente.


O dia da certeza

A situação piorou. Logo já não conseguia forma uma frase, sempre lhe faltará a ultima palavra, muitas vezes o substantivo. Seu lado direito começou a não mais responder a seus estímulos. Com muito sacrifício segurava uma colher para tomar uma sopa, pois só este alimento conseguira ingerir. Foi um mês muito difícil. Acompanhei-o ao pronto-socorro, o qual ficou um dia antes de dirigir-se ao Hospital Geral do Pirajussara, seu leito de morte. Na semana que dera seu internamento, soubemos da notícia. Um tumor. Em prantos consolávamos minha sogra que não acreditava na real situação. Logo em seguida soubemos que o que se pensava ter sido derrame na verdade fora uma hemorragia intra-craniana muito grande motivada pelo tumor, essa responsável pela paralisação do lado direito. Seus filhos revezaram-se para estar presente 24h no hospital, acompanhando-o e dando força na sua improvável recuperação. Foi quando no dia 04 de abril de 2009 veio a falecer, contraindo uma pneumonia hospitalar que complicara seu quadro já humanamente insuportável. Suas lembranças nos trazem dor, pois é difícil se separar de algo que nos faz tão bem. Contudo, fica a certeza que a muitos não se diz o mesmo. Você fará falta!





ITAGYBA KUHLMANN, como dito no texto: O "Braço de Pedra" de Embu das Artes, por ESTÊVÃO BERTONI para a FOLHA (obituário), deixa sete filhos, 5 netos, noras, uma amada esposa, e agora um genro, que eternamente serei eu.







Por: A. Oliveira

Um comentário:

Adriano disse...

Olá Alexandre! Ao contrário da imagem que vc tem de mim a respeito do acontecido. Posso dizer que eu sinto muito.
e admiro seu amor por seu sogro que estou certo que foi um grande homem.
Parabéns por esta dedicação!

Ele deve estar orgulhoso em algum lugar, pensando que ele deixou a filha com alguém que realmente vale a pena!

Adriano

 

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